O dia de ontem

desprendeu-se da noite embrulhado por uma intensa neblina de coloração cinzenta e, detentor de uma brisa fria que roçou o meu semblante, arrepiou o meu corpo e, seduziu a minha alma.

Trajada por um sobretudo pesado de coloração cinzenta, cachecol de coloração preta e, as mãos ternamente abrigadas por luvas de pele de coloração, semelhante, saí de casa a passos acelerados.

De vez em quando observava pelos ponteiros do relógio apenso no meu pulso os minutos que aliados à inquietação latente no lado esquerdo do meu peito, compassavam, certeiramente os segundos em minutos. Mais tarde, desejadamente e, acomodada junto de uma das vidraças da locomotiva que transportar-me-ía ao emprego, observei minucosamente o exterior visionando o mar melancólico e, cinzento detentor de ondas intranquilas despertando um sorriso apetecido em meu rosto. De vez em quando presenciava, semelhantemente, o interior.

Num desses instantes, no assento diante do meu, o meu olhar deteve-se num rosto oval, olhos amendoadamente castanhos, e, boca delicadamente desenhada contornada por uma barba recente. Trajava o seu corpo com umas jeans, camisa de coloração azul e, beje axadrezada e, um blazer de pele mel. Subitamente no seu semblante desenhou-se um sorriso atraente, confiante e, estendeu-me a mão.

Aterrorizada, desviei o olhar. Tímida e, ruborizada senti-me desconfortável. Procurei no interior da mala os óculos de sol e, coloquei-os no meu rosto pincelado por pinturas ténues e, aumentei abruptamente o som melodioso do mp4 que auscultava.

No entanto a inquietação permanecia do meu lado. Irrequieta no assento, o meu olhar detinha-se para fora da vidraça e, atemorizava-se no interior. Subitamente, a sua mão tocou levemente as minhas que jaziam por cima da minha mala. Surpreendida, olhei-o e, percebi que balbucionava palavras imperceptíveis de audição pelo elevado volume das melodias que escutava. Abruptamente, diminui o som e, questionei-o: "- Desculpe?!"

Declinando a cabeça, levemente, para a direita, retorquiu com um sorriso rasgado:  "O revisor está solicitando a sua passagem."

Por instantes fiquei devoluta de palavras, rodei o rosto para a esquerda e, enxerguei o revisor impaciente, aguardando pelo bilhete. Sorri-lhe e, desculpei-me. Apressadamente, retirei os fones dos ouvidos e, afundei a mão na mala procurando a minha carteira. Subitamente, ele estendeu-me a sua mão, e, ofertou-me a passagem evidenciando que  a tinha deixado cair quando assentei-me.

Apressei-me a facultá-la ao revisor que com um sorriso nos lábios a restituiu. Um misto de emoções tumultuosas percorriam a minha mente. Observei-o de novo e, um novo sorriso rasgado ofertou-me. A incredulidade que senti aliada à timidez impediram-me de agradecer o seu gesto. Sem balbuciar, levantei-me, afastei-me do assento e, aproximei-me da porta da saída esperando a estação pretendida.

O trajecto decorrente ao emprego foi sereno e, tranquilo no reverso anteriormente possuído.

Longos minutos depois, sentada confortavelmente na cadeira defronte da minha secretária desnudei a mala dos objectos pretendidos, peguei na carteira e, no seu interior enxerguei a passagem. Incredulamente possuia um nome, um número de móvel e, três palavras manuscritas ....

Comentários

  1. Boa tarde Ana...
    sobre este texto..leva.me a quer que voce deve ter ficado vermelha..com tal bilhete..penso ate que deve ter dito para Si propria..este tipo e mesmo bom a dar numaros de telefone.....

    Eu..depois do texto ate gostava de saber o seguinte
    ..entao voce telefonou a ele.. o nome dele era bonito ao menos e sua voz simpatica..ou mandou o bilhete para o caixote do lixo......

    e disse ...vai-te lixar que eu ja tenho namorado

    Um beijo e um final de dia
    Rui

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    Respostas
    1. Olá Rui,
      Como está?! As suas questões são merecidas e, naturalmente o seu desejo concedido. :)

      Replicando às suas questões: Não telefonei Rui. Aprecio o nome dele. “Pedro” é o seu nome. Recordo-me do seu timbre de voz, afável, seguro e, sem hesitação.

      O bilhete ?! Confesso que a passagem já não se abriga na minha carteira, apesar de sentir que o agradecimento seria merecido pela devolução da passagem, no entanto, relembrando as três palavrinhas manuscritas o meu arrependimento seria momentâneo.

      Um laço sorridente, tranquilo e, sereno para si.

      Ana

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  2. Ana,
    Agradeço a sua presença no meu "Ballet de Palavras" e, aceite o seu pedido.

    Um sereno dia para si.
    Ana

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