Ela retornou

… há alguns dias e indisciplinarmente tem permanecido comigo.

Arrogante, provocadora, atrevida e irrequieta tem-me observado, longamente, roçando o meu corpo, tocando a minha alma e invadindo a minha mente, ininterruptamente.

Ela não sabe -  talvez o sinta - que sinto-me horrivelmente cansada, e possuída por puro descontentamento.

Tem vezes que lhe volto o rosto, vedo os olhos e aconchego-me sofregamente e desesperadamente ansiando, rezando que a sua presença se canse, se apieda e abale para longe de mim.  No entanto a sua postura tem sido continuadamente a mesma. Do cimo da sua altivez, malvadez e insensatez, sorri, ri e gargalha descaradamente, acomodando-se confortavelmente do meu lado por um tempo indefinido e sobejamente indesejável.

Ontem à noite, porém, enfrentei-a.

Desrespeitei o local que se tornou no nosso encontro habitual. Não encetei a entrada no meu leito  na hora habitual, acomodei-me no sofá da minha sala, peguei no meu livro que jazia na mesinha da minha sala – Jodi Picoult, Tempo de Partir - e iniciei a leitura  desejada.

Longos momentos depois, continuava a senti-la, perigosamente, próxima. O seu aroma desagradável de textura irritável e desassossegada mas mesmo assim não me atemorizei. Desnudei os meus pés, elevei-os à altura do meu sofá, estendi o meu corpo cansado, cobri-me com a minha manta axadrezada e retomei a leitura apetecível onde interrompi. Não me recordo por quanto tempo, creio que o necessário para ela se sentir ignorada, dolente e desistir de acercar-se de mim (...) Adormeci, placidamente.

Pela manhã, despertei vagarosamente e denotei que o meu corpo trajava-se descansado, a minha alma desnudava-se revigorada e a minha mente pintava-se rejuvenescida.

Sorri.

Finalmente, ontem, usufruí de uma noite solitária sem a insónia se acercando de mim.

Comentários

  1. Belíssimo querida amiga ,amei demais ler tão precioso momento ,muitos beijinhos no coração felicidades

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