Exterior à vidraça da minha sala

... a noite era detalhamente observada e, desejada.  Noite desnuda e, enfeitiçada pela lua e, as suas estrelinhas guias ofertavam-me a serenidade, paz e, harmonia que desejava. A brisa intensa acarinhava o meu corpo e, irrequietamente entretinha-se a embaraçar os meus longos cabelos louros. Enovelada nas minhas mãos jazia a minha chávena de chá preferida possuída de chá "Principe" fumegante. De vez em quando elevava-a aos meus lábios e, por um e, outro golo degustava do líquido que dela emanava.

Tardiamente,  recolhi ao meu leito. E, o dia de hoje, vagarosamente e, dengosamente despertou sonolento  dos braços da noite adereçado pelos seus raios de sol invadindo o meu leito pelas brechas dos estores, lisonjeando o meu semblante e, estimulando o desabotoar dos meus olhos no mesmo instante em que um sorriso doce nos meus lábios presenteava. Volvi o corpo de lado e, abracei, ternamente, as minhas almofadas.

A letargia era, ainda, o trajo que o revestia.

Subitamente o telemóvel assente por cima do meu livro de leitura pousado na mesa de cabeceira despertara ao som da melodia "We Found Love" - Yellow Diamonds in the Light -. Inesperadamente e,  surpreendentemente imensas letrinhas do alfabeto invadiram o meu leito. Desassossegadas e, irrequietas. Atropelando-se veemente. Volvidos instantes, cinco, se acomodaram atrevidamente do meu lado e, desassossegaram o meu corpo e, mente.

Afundei-me por entre os lençois de coloração marfim e, ocultei o rosto numa das minhas almofadas de algodoeiro branquinho. Nesse instante, memorizei um semblante sorridente e, traquina. O aroma da sua ambição e, imaginei o odor do seu perfume.

Relembrei palavras. Lamentei outras.

Cerrei o olhar, abruptamente e, num timbre de voz imponente gritei a sua interdição.

Comentários

  1. Inesperada e surpreendentemente, imensas letrinhas virtuais do luso alfabeto invadiram o telemóvel e os meus olhos, desassossegadas, atropelando-se veementemente. Volvidos instantes, já logicamente agrupadas, acomodaram-se atrevidamente no meu cérebro, desassossegando-me o corpo e a mente.
    Afundei-me por entre os lençóis de coloração marfim e ocultei o rosto nas almofadas de algodoeiro branco. Nesse instante, de olhos bem fechados, um sorriso imaginário e perturbante assomou ao meu espírito, construindo momentos, fantasiando imagens, imaginando o odor do perfumado autor de tais palavras, invadindo a obscuridade do meu quarto.
    Abruptamente , num timbre de voz impotente, gritei da sua interdição ao meu espaço sagrado, mas o grito perdeu-se algures, abafado na imensidão do lado esquerdo do meu peito.
    Senti então escorregar sobre o meu corpo fremente e abandonado, o lençol de seda marfim.
    Sem forças nem vontade de o impedir, deixei que o corpo meio desnudado ao intruso se revelasse.
    O coração bateu ainda mais descompassadamente ao sentir-me fantasiosamente exposta ao seu olhar lúbrico e inflamado que o arfar mal contido denunciava.
    Ainda que num imperceptível movimento, mas incapaz de o impedir, as minhas coxas afastavam-se, deixando mais intenso o aroma a magnólia que do meu corpo emanava na obscuridade da noite morna.
    Lutava contra a impaciência da minha pele fremente de desejo, quando, sem um som ou um leve rocegar, senti um sopro quente e prolongado no tornozelo.
    Breves momentos após, uma língua macia e húmida aventurou-se vagarosa e subtil entre os dedos dos meus pés…

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    1. Garoto,
      Como vai?!
      Anonimo, não. Não esqueci o aroma da sua imaginação e, o perfume da sua presença mesmo que e, só virtual.

      Um laço saudoso e, de assídua admiração de mim para si.
      Ana

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  2. Boa noite Ana,
    Amo a delicadeza dos seus textos.

    A intensidade das suas palavras arrepiam os meus sentidos.

    Por detrás da tela, retratando as suas emoções no seu Ballet de Palavras tem que existir uma mulher rara, intensa e, linda. Só assim é possivel um bailado de letras melodioso, sedutor e, irresistivel como a Ana o executa.

    Um beijo do tamanho do mundo e, a promessa que estarei presente, assiduamente, no seu palco de emoções.

    Eduardo

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    1. Eduardo,
      As suas palavras despertaram um sorriso no meu semblante.

      Sinto-me lisonjeada e, agradecida, semelhantemente.

      Ana

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