Orfã

Dedê -Caricaturas - presenteou os seus leitores com um texto belíssimo "Mães só morrem quando querem" que demonstra os sentimentos impressos, audaciosos e, emotivos de quem o escreve e, a sensibilidade impressa e, requintada de quem o escolhe.

Em seu reverso, relembrei ...
Tinha seis anos de idade e, envergava um minúsculo e, lindíssimo vestidinho de coloração rosa quando tentei “ressuscitar” a minha mãe pela primeira vez no intuito de preencher o temor e, vazio temeroso no meu primeiro dia de aula, mas, ela não ressurgiu e, eu chorei.

Anos mais tarde, no período da minha adolescência, tentei renasce-la, de novo, quando em terror observei a minha primeira acne, o meu primeiro ciclo menstrual, encarei o uso do primeiro soutien, o meu primeiro desprazer de amor e, ou a perda da minha virgindade, semelhantemente, ela permaneceu sem vida e, eu lacrimejei.
Aos vinte e, sete anos, casei, num esplendoroso dia de sol, trajada por um vestidinho longo e, branquinho, semelhantemente, senti a mágoa da sua inexistência e, mais uma vez, tentei ressurgi-la … chorei, lacrimejei, gemi mas ela distante e, ausente manteve-se.

Volvidos treze meses, fui mãe pela prima vez. Senti o encantamento, o desfrute e, vislumbrei o requinte, a sofisticação deste acto maravilhoso e, não resisti. Afincadamente e, abruptamente chorei, lacrimejei, gemi e, revoltei-me, mas, ela continuou longinquamente.

Seis anos mais tarde o meu prazer, o meu deleite, o meu primor fortalecera-se e, uma nova gravidez acontecera. Nessa noite, após ter dado, de novo, à luz, o choro, o gemido e, o grito sussurrante inesperadamente não sucedeu pela carência da minha mãe. 

Fiquei inerte, e, indiferente.

Não tentei ressurgi-la. Pela primeira vez, acomodei-me à sua inexistência, à sua deliberada "morte", no entanto, confesso que estremeci e, assustei-me.

Existe uma desconformidade enorme e, profunda no acto prodígio de ser mãe. Existe um abismo enorme entre conceber, dar à luz, amamentar, educar, instruir, amar, e, apenas gerar. Nesse preciso instante, entendi que não é possível ressuscitar o que não existe, e, ou nunca existiu, surpreendentemente, entendi a ininterrupta ausência da minha mãe e, o fundamento da sua antecipada morte na minha vida ... facilmente, conclui que já era órfã quando nasci.

Comentários

  1. abraço das conchinhas,
    parabéns pelo blog!

    visite-nos em nosso espaço
    www.conchasbelas.blogspot.com

    Priscila Lima

    ResponderEliminar
  2. Veja que maravilha Ana. Te apresentei um texto que, de repente, gerou um lindíssimo ensaio. O seu texto está lindo demais. Te peço que faça uma postagem no Cariricaturas.
    É que Mãe é uma coisa presente mesmo sendo passado. E quando alguyem é mãe, sempre ressussita a mãe que teve...ou não.
    Parabéns

    ResponderEliminar
  3. Priscila Lima,
    Agradecida pela sua presença e, pelo seu carinhoso convite.

    Ana

    ResponderEliminar
  4. Dedê,
    Agradeço a sua presença no meu Ballet de Palavras acrescida pelas suas carinhosas palavras.

    Semelhantemente, sinto-me lisonjeada com o seu convite.

    Ana

    ResponderEliminar
  5. Olá, querida Ana
    Empatizei muito com o final do seu post... como compreendo o que nos é apresentado com dor...
    Bjs de paz e ótima semana.

    ResponderEliminar
  6. Orvalho do Céu,
    Agradecida pela suas palavras de entendimento e, desejo.

    Um laço carinhoso de mim para si.

    Ana

    ResponderEliminar
  7. Obrigado pelo teu blog, simplesmente sublime... Rogério

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rogério,
      Sinto-me lisonjeada com a sua presença no meu Ballet de Palavras, e, semelhantemente agradeço as suas ternas palavras.

      Ana

      Eliminar

Enviar um comentário

Ballet's Mais Admirados