Coloquei a chave na fechadura

e, desobstruí a porta com um movimento preciso …

No móvel do hall de entrada pousei a carteira, as chaves, o telemóvel …

Caminhei em passos lentos e, silenciosos em direcção à sala, a luz trémula que entretanto me iluminava, adivinhavam longa a noite que já iniciara …

Sentei, exausta, no sofá da minha sala.

Dobrei a perna, coloquei a mão no calçado e, desnudei o pé … depois, no sentido reverso o outro se desnudou, demoradamente, sob o meu toque delicado e, preciso, no mesmo instante que movimentos ténues, delicados, relaxantes roçaram os pés desnudos e, doloridos da delonga do dia passado.

Instantes depois, recostei-me para atrás…
Elevei e, dobrei as pernas de lado, ergui os braços e, acariciei vagarosamente e, lentamente por debaixo dos meus extensos e, ondulados cabelos loiros o meu pescoço tenso enquanto a minha cabeça remoinhava, de um para outro lado, aliviando a tensão trajada no momento …

Por momentos, o meu olhar devaneou pela parede de cor e, deteve-se numa peça de adorno que jazia de lado do LCD silenciado … possuída por colorações intensas retratam um semblante, cuja observação tranquiliza-me, ininterruptamente …

Cerrei os olhos ...
Expirei, inspirei e, instantes depois, senti-o perto... pertíssimo...

Sorri e, deixei que me tocasse … sorri e, deixei que me sentisse... observei-o, observou-me e, pedi-lhe que permanecesse comigo ...

Ele cedeu! Eu agradeci.
Finalmente, conciliei-me com ele e, o tempo comigo …

Comentários

  1. Dá para imaginar cada passo de sua narrativa. Quase um ritual de chegada. Amei.
    Bjux

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  2. estes acertos de contas fazem muito bem, ana.
    aliás, acertos de contas em todas as suas variantes, às vezes conosco mesmos...

    aplaudo a sua prosa!

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  3. Ana,

    Excelente ballet você trouxe hoje a pensar.

    O tempo parece fugir-nos. Corremos atrás dele o dia inteiro e não o alcançamos. Apenas quando relaxamos e nos permitimos estar tranquilos é que o encontramos. Ah, o tempo... O reencontro é sempre prazeroso...

    Beijo

    Carla

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  4. imagino quem seja o busto que serenamente a olhava e transmitia paz e sossego,
    estas imagens sao a vertente da força de viver que a impele..
    quantas vezes, tardes e noites esse consaço se deixou cair nesse sofa, quantas vezs se ouviu,,"nao se canse....."
    MF-Mario

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  5. Wanderley,
    Feliz com o seu comentário e, agradecida. :)

    Ana

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  6. Roberto,
    É um prazer a sua presença no meu Ballet de Palavras.

    Você tem razão, por vezes, às vezes a reconciliação é primordial.

    A prosa agradece o seu aplauso.:)

    Um ténue e, delicado dia para si.

    Ana

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  7. Carla Farinazzi,
    Agradecida e, lisonjeada pela sua simpatia. O reencontro com o tempo é sempre aprazível, sim.

    Um sorriso e, desejos de um final de dia feliz.

    Ana

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  8. Mário,
    Surpreendente o seu comentário e, veridico.

    Agradeço a sua presença no meu Ballet de Palavras.

    Um laço delicadamente enovelado e, adornado por um sentimento feliz de mim para si.

    Ana

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