Ela trajava um manto pesado e, antigo

… quando silenciosamente sentou-se no sofá da sua sala. Na mão esquerda um telefone sem fios e, na outra um pedacinho de papel com um número manuscrito e, um nome cuja coloração indiciava que há muito tempo permanecia resguardado.

Cautelosamente, receosamente premiu um a um os algarismos que formavam o número de telefone, e, premiu o botão de chamada. Por escassos instantes, o tremor assolou o lado esquerdo do seu peito, por acanhados instantes, pensou em interromper a chamada.
Volvidos segundos, um timbre de voz envelhecido, amargurado mas reconhecido se fez audível. Ela ficou inerte! As palavras escapuliram-se irrequietas por entre o seu pensamento e, num timbre de voz enrouquecido questionou: - Cila, querida és tu ?! É a Ana (…)!
Do outro lado, um silêncio breve e, seguidamente num timbre de voz elevado:  - Cila?! Não, não sou! No mesmo instante, palavras imperceptíveis foram proferidas.
Depois, um sinal sonoro ininterrupto se fez ouvir. A chamada telefónica, abruptamente, cessou.
Decepcionada, recostou-se no sofá da sua sala, declinou o seu semblante, sob o seu braço e, a sua mão amparou o seu triste rosto. Memorias passadas, irrequietas, e, traquinas sentaram-se do seu lado. Extenuada, e, triste cedeu o seu rosto às lágrimas que brotaram dos seus olhos e, entregou-se ao sentimento saudoso que assolara o lado esquerdo do seu peito  e, que naquele instante, detinha-se incessantemente, aliada a uma profunda desilusão.
Reviveu o rosto juvenil de Cila e, a sua alma leviana. Os seus gostos extravagantes e, as suas acções irreflectidas. Memorizou a sua passagem por caminhos perigosos e, incompreendidos.  Os conselhos que lhe havia proferido, a ajuda que lhe tinha prometido - incompreensivelmente recusada - e, finalmente, a última desavença e, a despedida sofrida.
Uma amizade, dolorosamente, interrompida.
Vagarosamente, levantou-se, apagou a luz ténue da sala e, encaminhou-se para o leito.
O meu número de telefone ficara registado. Mais tarde ou mais cedo a Cila retornará a minha chamada ... creio!

Comentários

  1. Feliz saber que por aqui me encontro.
    Teu canto é lugar bom para se repousar os olhos.
    Um beijo. :)

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  2. Guilherme,
    Agradecida pela sua visita ao meu Ballet de Palavras e, pela suas ternas palavras.

    Ana

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  3. Olá, querida
    Trajar um manto peado... precisamos nos despir de tantos apegos... desordenados...
    Bjm de paz e ótima semana

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