O silêncio reinava no meu lar

Enquanto todos dormiam em passos desacelerados, encaminhei-me até à vidraça da minha sala. Desobstrui-a e, observei a formosura do dia, ainda, sonolento. O despreendimento dos braços do dia dos braços da noite que esmorecia. A lenta dseparação. E, imaginei nas suas despedidas ternas carícias e, palavras proferidas na afirmação que logo mais se encontrariam.
 
Depois, retrocedi. Cerrei a vidraça desloquei-me, vagarosamente, para o interior do meu lar. E, entrei ... Debruçei-me, desobstrui a torneira e, a água tépida fluiu por entre a banheira. O canto da água corria compassadamente e, certeiramente.
 
Elevei o rosto, e, observei-o no espelho. A imagem espelhou um sorriso de mulher amadurecida e, menina travessa, irrequieta e, feliz. A serenidade com a sua mão delicada penteava-me os cabelos louros e, longos, desnudava-me, vagarosamente, o roupão e, a camisa de noite lentamente numa lentidão desmesurada de tão cuidada que trajava os meus pensamentos no dia que se estreava. O dia do meu aniversário.
 
Instantes depois, vagarosamente, entrei na água tentadora que possuiu o meu corpo e, os meu sentidos afloraram docemente à tonalidade da minha pele, placidamente, demoradamente e, acomodada por um atropelo em meus pensamentos. Suavemente a água tépida, tocou-me, rouçou-me, deslizou, languidamente, ao longo do meu corpo, pelas costas, pelo ventre, brincou travessamente com os meus seios, escorregou pelas minhas pernas e, caiu ruidosamente a meus pés. Por longos minutos, permaneci debaixo dela. As mãos abertas pressionando os mosaicos acima da celsitude do meu semblante e, o rosto elevado sentindo-me acariciada por ela.
 
Mais tarde, regressei ao leito, e trajei-me a preceito. O dia revelar-se-ía intenso, apaixonante e, belo.
 
Comemorar um aniversário de nascimento é sinónimo de vida. Celebrar a minha existência é possuir o privilégio e, a primazia de amar a vida mesmo quando de coloração cinzenta e, agreste machuca, fere, maltrata e, faz-me sentir devoluta. É possuir a arrogância de viver apesar dos dissabores, das desilusões, das traições e, das duras decepções. É o entendimento da convicção que os receios existem e, reversamente a coragem, também. É um querer e, acreditar que viver é maravilhoso sendo protagonista principal num enorme palco que nomeio de vida e, não mera espectadora renovando a esperança, usufruíndo e, privilegiando da companhia dos que amo e, semelhantemente amam-me.
 
Volvidos cinco dias da data do meu aniversário o meu reconhecimento e, agradecimento carinhoso pelas presenças, pelos presentes auferidos, pelos gestos ternos e, delicados, pelas palavras escritas, faladas, reveladas e, dos desejos confessos e, docemente desejáveis de pessoas unas e, inigualáveis.
 

Comentários

  1. Ana,
    Amei o seu texto e, agradeço o privilégio de permitir a anatomia do rosto de quem está por detrás do sublime "Ballet de Palavras".

    Desconhecendo o seu rosto, sempre senti que quem escreve de forma tão peculiar onde a sensibilidade, o pormenor, o detalhe e, a sensualidade são caracteres que se movem subtilmente ao sabor das suas emoções seria uma mulher que além da beleza interior que detém também da beleza exterior é refém.

    Felicito-a pelo seu recente aniversário.

    Um beijo de admiração.
    Eduardo

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    1. Eduardo,
      Confesso que careci de aproximadamente dois anos para divulgar o rosto que se ocultava por detrás do Ballet de Palavras. Temerosa e, receosa ao longo deste tempo fui rejeitando esse pormenor.

      Neste momento Eduardo, amadurecida e, sem receios entendo que foi legítimo a minha decisão pelo apreço e, respeito que nutro pelos seguidores e, leitores do meu blogue.

      Agradecida, pela sua felicitação do meu aniversário.

      Um dia terno e, docemente feliz para si.

      Ana

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  2. Olá Ana.
    O seu presente,foi uma surpresa para mim.Desconhecia esta sua veia de prosa.
    Continue;se puder vou continuar um assiduo e ferveroso leitor.
    Mais uma vez,parabens.
    Bj

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    1. Olá Mário,
      Sorri.
      O meu presente foi a minha forma singela de agraciar o carinho que ao longo do tempo devota-me.

      Naturalmente, será um prazer e, um privilégio a sua presença no meu "Ballet de Palavras".

      Uma vez mais, o meu reconhecimento pela lembrança e, desejos de feliz aniversário.

      Um dia colorido e, feliz para si.

      Ana

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  3. Olá Ana
    Obrigado pela gentileza de sua visita e pelas generosas palavras. Você é uma grande escritora e sua visita nos encanta e enche de honra.
    Um beijo de longe, aqui do Brasil, Zé Carlos

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    1. Zé Carlos,
      O prazer é mútuo.

      Um laço de eterna admiração de Portugal.

      Ana

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  4. Um texto repleto de sensibilidade:)!
    Parabéns
    Bjo

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    1. Álvaro Lins,
      Lisonjeada, uma vez mais, pela sua presença no meu Ballet de Palavras e, pela suas ternas palavras.

      Um laço de agradecimento de mim para si.

      Ana

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  5. Obrigado, Ana. Simplesmente belo e prenhe de sensualidade. Beijo

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  6. Olá Ana,
    Vagueando pela blogosfera descobri o seu blogue que encantou-me e, seduziu-me.

    Sua escrita é linda demais. A forma como descreve os seus momentos, detalhadamente e, sensualmente permite ao leitor um sonho desejável.

    Um beijo.
    Luis

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    1. Luis,
      Sinto-me, lisonjeada pelas suas palavras e, agradecida pelo apreço que delas emana.

      Ana

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