O relógio marcava ritmadamente as horas ...

.... quando recolhi ao meu leito iluminado pela luz que o invadia de letrinhas, aromatizadas de incenso que se libertavam, vagarosamente, dos candelabros criteriosamente admirados.
A melodia que se fazia sentir, tranquilizava o meu corpo e, serenava a minha alma.
Sentada, defronte do meu tocador, observava o rosto que se espelhava…
Delicadamente e, sem pressa desnudei-me dos adornos que revestiam as minhas mãos e, rosto… meticulosamente, derramei um último olhar sobre minuciosos detalhes e, guardei-os religiosamente em gavetinhas minúsculas onde o descanso se abotoa e, se acomoda por tempo incerto.
Depois, peguei um a um... pedacinhos de algodoeiro embebidos em tónicos suaves e, desnudei vagarosamente as pinturas retratadas no meu rosto…
O tónico noctívago roçou delicadamente a minha pele … provocando-me uma sensação aprazível, nua, fria que rejuvenesceu a minha alma e, terminei de desmaquilhar-me.
Sem pressa … observei, a escova que jazia no lado direito do toucador, rebelde, ansiando o momento preciso para lhe pegar… Arrestei-a e, penteei os meus tumultuosos cabelos loiros por entre irrequietos caracóis …
Posteriormente…
De pés desnudados, desloquei-me silenciosamente pelo quarto adentro…
A água tépida que desabotoava os meus sentidos apelava-me a um reconfortante e, luxuriante momento terno e, relaxante…
Longos, momentos depois retornei ao meu leito.
Semblante poisado na minha almofada, enlacei-me na textura de um lençol de cetim avermelhado… e, deitei-me serenamente.
Cerrei os olhos … o devaneio iria principiar.
Um alfabeto de vinte e cinco letrinhas … se juntaram e, possuíram-se em palavras que irrequietamente, percorreram o meu leito…
No inicio em fila … mas, depois desordenadamente se desvendaram…
A primeira… interveio dengosamente por entre os lençóis… apresentou-se e, se apelidou de sonho… sorri… depois, outras e, outras repentinamente se avolumaram e, se ofereceram… seus nomes… placidez, mansidão, aconchego.
Substantivos se amaram e, adjectivos quantificaram-se e, diversificaram-se num terno ballet … onde personagens de nomes, advérbios e, pronomes se juntaram numa coreografia secreta, majestosa e, só minha … possuída por doces, ternas e, meigas palavras … no prazer trajado de pensamentos desejados…
No momento, em que o sonho terminou, despertei, sonolentamente, quando o sol irrompeu pela vidraça do meu quarto adentro … tacteei ao meu redor e, sorridentemente observei o alfabeto de vinte e, cinco letrinhas descansando no meu leito da noite veemente vivida … as cortinas fecharam-se e, a quimera terminara.

Comentários

  1. Ler, sorve, visualizar, num imaginário um quarto, um corpo femenino. esbelto de pele lisa, e cor marmorea emanando uma aurea,,
    Vestes suaves, e quase sem peso descaiem sobre seu corpo, sentada..vai-se desnudando das mascaras do dia a dia em gestos suaves envoltos numa melodia que flutua nesse aposento,..
    é assim que ao ler se formaliza a imagem dessa..fragil ...Senhora
    MarioFernandes

    ResponderEliminar
  2. Estou completamente deleitada... Quase sem palavras... I feel kind of... embeded within this poem... Loved it...
    Cris

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Ballet's Mais Admirados