Cúmplices … Tu e eu

Conheci-te na minha infância e, apaixonei-me. Relembro o nosso primeiro encontro. Na mão a sebenta da escolinha e, nos dedos o lápis de carvão desenhava primatamente e, timidamente as primeiras letrinhas que ternamente leccionavam-me. No lado esquerdo do peito um doce rebuliço e, no corpo um meigo irrequietismo pela tua aprendizagem.

Primeiro foram as vogais, e, separadamente mas ordeiramente as restantes letras do abecedário. O meu pensamento unia-se com as letrinhas e, no papel a dança das palavras irrompiam sonhadoras e, livres como um delicado “papagaiozinho” de papel.

Mais tarde, na infância, aprimorei-me.

E, tu?! Persistentemente revelavas-te sedutoramente. Traquinamente e, assiduamente debaixo do meu olhar trajavas-te de colorações diversas. Raramente negras e, sombrias mas, habitualmente, ténues e, vivas desnudavas-te e, enaltecias-te no papel pardo da sebenta adornada pelos meus sentimentos revelados. E, eu?! Anteriormente, aprendiz, e, sapiente de ti estriava-me na revelação dos meus receios, temores, solenização das minhas conquistas e, dos meus amores.

Na idade adulta, o elo fortificou-se no convívio diário e, desejado. Hoje em dia, histórias e, ou memórias são relembradas, impressas, iniciadas e, estampadas ou embargadas em pedacinhos de papel no meu “moleskine” preto ou na tela, indiferentemente.

Fiel e, paciente no decorrer de todos estes anos mantiveste-te sempre ao meu lado. Nas noites escuras em que num acesso repentino pego desajeitadamente em ti, rasuro-te ou amasso-te sem dó e, piedade e, nos dias solarengos em que escrevo-te e, guardo-te carinhosamente num local desejado. E, tu?! Silenciosamente trajada pelos meus sentimentos de alma, verdadeiros, pavoneias-te, vagarosamente ou apressadamente e, assemelhas-te a uma delicada dança de alma espelhando a menina de outrora e, a mulher actual.

Nos dias de hoje a minha entrega é absoluta, sem segredos, receios e, ou tabus. E, a tua presença trajada por letrinhas fieis e, cúmplices no entendimento e, no prazer que  ambas selamos presentemente.

Cúmplice … Eu, e, Tu (as letras) …

Comentários

  1. Olá Ana
    Penso ter lido o post de que me fala e pensava que até tinha comentado na altura, mas agora estive à procura dele e não o encontrei...

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  2. Carlos,
    Lisonjeada com a sua visita.

    Encontra-o na coluna do lado esquerdo nos Ballets Mais Admirados.

    Um sereno e, tranquilo dia.

    Ana

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  3. Comigo, nem sempre fomos cúmplices. Uns dias desenhava-vos primorosamente, outras meio-torto.
    Até cheguei a aprender caligrafia, para não me desviar dos traços certos. Ou para encher "outras letras" (que eram descontadas no Banco). Aí também não era cúmplice, era obrigação (sem erros, nem rasuras).
    Noutras vezes, decorei-vos e... cheio de sentimento passei a declamar-vos, com muita cumplicidade e amorosidade. Mais velho, ou com sarcasmo, ou com saudade.
    Hoje, distribuo-vos com um certo grau de "libertinagem", voam na aragem, são palavras ao vento, muitas vezes em forma de lamento, ou de expiação, por não me ter dedicado a vós com muito acerto, com a dignidade devida.
    Hoje, minhas amigas - Letras - uso-vos com evasão, como escape e até como esconderijo.
    Escondo-me atrás de vós, por não saber como o dizer face-a-face.
    Perdoai-me, se vos maltrato!
    Façamos então trato: Eu continuarei convosco, se vocês não reclamarem muito sobre este nosso mau contato.

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  4. José,
    As suas palavras assemelham-se a um bailado delicado e, requintado. A sua cumplicidade com as letras são passos “Petit Jeté” adornados de uma doce sinceridade e, audácia.

    Sabe José?! Entendo que as palavras são caracteres multifacetados. Por vezes de coloração ténue e, outras sombrias. Exalam sentimentos que coabitam no lado esquerdo do peito e, dissemelhante das faladas são tatuagens que a alma sofisticadamente grava.

    Agradecida, José.

    Ana

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  5. que interessante .. muito importande vc aprende ... não precisa nem ir para escola rsrs

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  6. E é com as palavras, num ballet sedutor, que nos fazes rodopiar. O texto transportou-me para vários momentos da minha vida.
    É um prazer ler-te!
    beijinho

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    Respostas
    1. Henrique,
      A sua cumplicidade e, entrega é imensa com os carateres que se enovelam em palavras, palavras em frases, frases em sentimentos intensos e, sentidos que o "poeta" pela pontinha dos seus dedos e, conduzido pela sua mente privilegia a vivência de lindos e, ternos momentos ... meus!

      O meu apreço é semelhante ao seu.

      Ana

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