Sorrateiramente

 ... empurrou a porta e, vagarosamente aproximou-se de mim. Quietos, os seus olhos intensos miraram os meus, num olhar prolongado e, numa carícia pretendida.

Poisei o livro. Inclinei-me, peguei-o, carinhosamente e, coloquei-o do meu lado. Languidamente, desnudei os pés, encolhi as pernas e, recostei-me confortavelmente no meu sofá.

De vez em quando o meu olhar inclinava-se sob ele e, as minhas mãos acariciavam o seu débil corpo despertando um ronronar aprazível de ouvir. Defronte do meu olhar, incrustado na parede um LCD apagado, sem imagem e, sem som. Por baixo, o aparelho de som debitava tranquilas melodias que nos embalava.
 
A luz ténue que irradiava a minha sala, pelo candeeiro apenso, na mesinha do meu lado, coloriam suavemente o ambiente onde encontrava-me.

Surpreendente a letargia acerca-se de mim. Vagarosamente, possui o meu corpo. A minha mente, lentamente, amortece no agasalho da sonolência que fruo. Cerro os olhos ... Deixo-me ficar … Deixo-me levar …

Caminho por ruas desertas, onde vidraças abertas permitem a audição do burburinho de conversas francas, onde imagens por entre quatro paredes desabrocham perante o meu olhar, carismáticas, íntimas e, inimagináveis.

Por entre uma ruela, caminho sem pressa, e, avisto ao longe, uma porta imponente de madeira rude envelhecida. Cautelosa, empurro-a. Um barulho estridente e, rasteiro estremece-me, mas, não desisto e, empurro-a com toda a força que detenho. De par em par, observo o interior devoluto de pessoas, requintadamente, trajado por imagens celestes visionárias e, por delicados religiosos vitrais. Sem pressa, desloco-me por uma passagem estreita e, desvio o meu corpo para a esquerda, sento no assento corrido de madeira envelhecida e, permaneço, por longos instantes.

O silêncio sepulcral trajado pelas imagens celestes, odores reconhecidos e, unos serenam silenciosamente e, lentamente o lado esquerdo do meu peito.

Medito. Levanto o corpo, e, ajoelho-me. Mãos dadas, dedos enovelados á altura do meu rosto. Rezo.

Um harmonizar estimula o meu corpo e, mente adormecidos. Um desaconchego, súbito, do meu lado concretiza-se e, abala. É o termino do sonho que embalar-me-ia, carinhosamente, pelo remanescente dia.

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