Ousadamente, o dia presente ...


.. desprendeu-se dos braços da noite, cinzento.

A chuva que, entretanto, se faz sentir surpreende-nos e, no mesmo instante, deixa-nos antever, tristemente, um dia cinzento e, descontente.

Ontem, o trajecto de casa ao emprego, pautou-se por uma tranquilidade e, serenidade na observação do meio que me rodeava. Por vezes, observava as paisagens que desfilavam perante o meu olhar e, no meu rosto um sorriso se fazia adivinhar … Gosto de contemplar pela vidraça o exterior em constante agitação, aprecio as imagens que desfilam perante o meu olhar como se de um bailado se trate.

Coloquei a chave na fechadura da porta da entrada quando o relógio marcava 21h10m.

A noite adivinhava-se solitária. E o meu lar devoluto naquele instante era o que mais ambicionava.

Passos lentos, encaminhei-me para a sala. No sofá, poisei a mala, as chaves, o telemóvel e, os sacos. Depois desloquei-me para o quarto, o casaco pendurei no cabide do roupeiro e, sentei-me na minha cama por breves instantes.

Elevei o olhar e, o espelho reflectiu uma imagem de uma mulher exausta e, cansada.

Vagarosamente, inclinei-me, desnudei um e, outro pé das botas molhadas e, voltei-me. Agarrei numa das minhas almofadas, e, deitei-me de lado no meu leito.

Nesse instante, invadiu-me uma tranquilidade extraordinária trazida pela luz ténue do candelabro da rua que pela vidraça fechada, pousou no meu semblante e, iluminou o meu pensamento, despertando doces memórias.

Sorri.

A exaustão do meu corpo enfraqueceu-se e transformou-se numa leveza de espírito, timidamente, desejada.

Estava só, mas, não me sentia, só.

A manta polar axadrezada, jazia aos meus pés e, num movimento preciso, enovelou-me. Cerrei os olhos, colocando uma mão debaixo do meu rosto, agora tranquilo, outra abaixo da minha almofada e, senti a dormência que tomou conta do meu corpo e, pensamento.

Soubera, depois ... que nesse instante deixei-me levar para uma terra sonhada, habitada por uma alma encantada.

Comentários

  1. Ana, olho para uma das suas imagens...
    os pés desnudos parecem bailar num manto de neve enquanto as sapatilhas observam os passos e juro-lhe que as consigo imaginar a sorrir.
    A bailarina não deixa de ser bailarina por dançar sem sapatilhas... a Ana nunca estará só mesmo que esteja sozinha, haverá sempre quem num pensamento esteja a seu lado... a observa-la como as sapatilhas da imagem ao lado ... sorrindo.

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  2. Vagarosamente, inclinei-me, desnudei um e, outro pé das botas molhadas e, voltei-me. Agarrei numa das minhas almofadas, e, deitei-me de lado no meu leito.
    Na penumbra do quarto, descortinei no espelho o reflexo ténue do meu corpo exausto espartlhado na roupagem quotidiana. Num quase impaciente gesto, abri o fecho lateral da saia.
    Arqueando levemente o tronco, desenvencilhei-me dela, que, num repente, sobrevoou a cama para algures na penumbra.
    Os polegares, hábeis, enganchando-se no remate do collant, fizeram-no deslizar ao longo das coxas, das pernas e por fim deixaram também nus os pés doridos, num pouco menos que inaudível rocegar na pele cuidada e lisa.
    Mais cómoda e liberta, retomei a postura inicial. Impassível, o espelho devolveu-me, mais tenuamente ainda, a imagem esguia e sinuosa.
    Achei-me um pouco mais magra. Rodei a perna livre até que o joelho ficasse na vertical e elevei o pé que se apoiou unicamente na extremidade dos dedos. Acariciei carinhosamente a coxa macia e sedosa. Ainda que o contorno mantivesse a elegância de sempre, estava sem dúvida...

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  3. Pormenor delicado “desnudos”. Sorrio. Enalteço o sentimento impresso de carinho manifestado por si J.P.
    Sabe?! Mesmo, desconhecendo o seu sorriso, possuo a certeza que ele é lindo, porque a beleza de um sorriso subsiste na beleza interior que aflui de dentro do coração.

    E, o seu J.P. é delicado, gentil, uno e, distinto...

    Ana

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  4. Anónimo? Não. Identifiquei-o.
    O texto refulgente que, afectuosamente, presenteou-me reflecte a forma como você sobrepõe a excelsa imaginação com o seu carácter encantador e, sedutor.
    E, naturalmente, foi essa ligação que se atestou nas letras do seu texto que permitiu-me reconhecê-lo.

    Saudades de si... Garoto.
    Ana

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  5. Muito obrigado pelo comentário ao meu ultimo texto! senti-me mesmo lisongeada :D
    Lamento não poder/saber fazer um comentário tão bem estruturado e formulado como a forma que escreve para mim mas enfim, a idade ainda ha-de permitir conhecer o resto do dicionário! :P de qualquer forma gosto muito dos textos no geral mas de vez em quando lá surge um ou outro com que me identifico mais ou que gosto mais de alguma coisa. Gostei muito de ler este, descreve tudo tão complexamente que consigo imaginar-me quase que a vivê-lo. e é o que um bom escritor deve conseguir fazer para ser um bom escritor é exactamente isso. não precisamos de publicar livros para ser bons,basta-nos sentir o que escrevemos e já estamos a ser brilhantes!
    Obrigado mais uma vez e tambem espero que continue a escrever,tem imenso jeito. Beijinhos :)

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  6. Cátia,
    Quando se escreve com o coração ... as palavras deslizam ao sabor da emoção.
    E, é essa emoção que nos enaltece-se os sentidos.

    Os seus, meus sentidos, as suas, minhas emoções estão apensas em todos os seus e meus textos, por isso, eles são unos e, perfeitos.

    Ana

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  7. Lindoooooooooooo,eu amooooooooooooo seus textos e comentários
    Boa tarde de terça,espero que estejas bem,muito bem bem bem
    Eu adoro tudo isso akkkkkkkkk,essa blogosfera que faz se achegarmos...kkk.

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    Respostas
    1. Anónimo,
      Agradecida pelo seu comentário.

      Uma excelente semana para si.

      Ana

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