Memórias do primeiro beijo ...

Tinha 13 anos de idade quando os meus lábios roçaram pela primeira vez os lábios do outro menino e, o primeiro beijo aconteceu.

Na minha adolescência sonhava com os “beijos” que imaginava nas imagens que observava dos actores nas revistas cor-de-rosa. “Telenovelas” era o nome de uma revista semelhante a revistas de bandas desenhadas – imagem e, texto – que relatava sempre imensas paixões, amores sofridos, alguns proibidos mas detentores sempre de um final feliz. - adoro finais felizes -.

Em cada sexta-feira da semana a revista se editava e, eu deslocava-me ao quiosque sem ser necessário balbuciar alguma palavra e, adquiria o novo exemplar com o intuito de ler a continuação da história encantada relatada na semana transacta. Depois, corria em direcção a casa e, recolhida ao meu leito, traquinamente escondida folheava avidamente a revista no mesmo instante que no meu gira-discos tocava canções românticas de Nelson Ned e, ou Art Sullivan e, o mundo encantado enaltecia-se no meu quarto principesco.

- no momento em que digito as presentes palavras um sorriso terno enaltece-se nos meus lábios -

Na escolinha, num final de dia rude, sombrio e, chuva intensa, enquanto aguardava pela carrinha que levar-me -ia de volta a casa, abriguei-me a convite de um coleguinha debaixo do seu guarda-chuva. Um menino de caracóis louros e, olhos azuis cobiçado e, adorado por todas as meninas da minha idade. Relembro que naquele instante o sentimento que assolou o lado esquerdo do meu peito se apelidava de felicidade. Paralelamente, o nervosismo, a timidez e, a vergonha estava de braço dado com o sentimento assolado no lado esquerdo do meu peito.

Do lado oposto, outras meninas admiravam-nos ...

No entretanto, os minutos passaram o diálogo foi encetado e, a determinado momento … elevei o rosto e, nos olhámos prolongadamente ...
Subitamente, um pensamento se fez presente no meu pensamento. “Ele vai-te beijar?!…” Coloquei-me em bicos de pés, cerrei os olhos e, imóvel de frente para ele desejei que os seus lábios tocassem os meus e, o seu braço envolve-se o meu delicado corpo. – tal qual habituaram-me a ver nas imagens sonhadoras da revista cor-de-rosa de então -

E … o beijo aconteceu, nossos lábios se roçaram e, nossas bocas se uniram.

Segundos depois quando cessou, relembro a mutação de menina para mulher .... experimentando o sabor de um beijo.

Reversamente, senti-me desiludida!
O beijo sentido não tinha sido o que eu tinha imaginado … Credulamente tinha-me colocado em bicos de pés pensando que o beijo os faria erguê-los do chão ao mesmo tempo que esperava que o meu coração desinquieto e, acelerado caísse redondo no chão de tanta emoção.

Mas não!
Nada do que eu tinha imaginado, se cumpriu. Afinal foi um simples beijo, sem sabor e, sem paladar … - sorrio -
Mas, apesar de tudo não o esqueci. Agora que muitos anos passaram e relembrando o meu primeiro beijo consigo entender e, perceber o motivo da minha desilusão.

No meu beijo escasseou a essência que de melhor o beijo tem: O sentimento !

Comentários

  1. Ah! minha querida e delicada Bailarina.

    Que instante memorável! enquanto fazia a leitura do primeiro beijo "viajei" no tempo e na memória.risos enrubescidos.rs Me lembro muito bem como se passou a 'mutação' de IT menina para IT mulher,no aguardo do beijo, minha amiga! pode ficar á vontade e rir.risos!coloquei-me nas pontas do pés, solenemente! fui contemplada acidentalmente com uma mordida no lábio inferior.
    risos e risos.rs
    Gostava e ainda gosto muito das músicas do cantor guilherme Arantes(vc o conhece?) a música, linda por sinal, "êxtase".E assim foi por água abaixo, minha doce ilusão.
    Extasiado foi...o constrangimento de ambos.

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  2. Olá Ana
    Adorei o texto, só não gostei da desilusão, mas isso é uma verdade, nada sem sentimento tem o mesmo sabor.
    Bjs

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  3. Irlene,
    Felicidade foi o sentimento que assolou o lado esquerdo o meu peito pela sabedoria da sua viagem no tempo e, memória.
    Similarmente, sorridente pela sua confissão na transmutação de menina - mulher pelo seu primeiro beijo.

    Confesso que não conhecia Guilherme Arantes, no entanto e, neste instante a sua "êxtase" acompanha-me aprazivelmente na resposta ao seu comentário.

    Um dia magnificente portador de sentimentos aprazíveis no lado esquerdo do seu peito.

    Ana

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  4. Wanderley,
    Agradecida pelo seu comentário, veracidade e, cumplicidade no entendimento.

    O dia de hoje, despertou, tristemente embalado por uma brisa intensa, o reverso de um dia feliz embalado por uma brisa delicada e, ténue é o meu desejo para si ...

    Ana

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  5. Olá, Ana!

    Lembra-me dos tempos das fotonovelas. Não sei porque deixaram de construir esse sistema de estórias fotograficamente incríveis. Bem, a modernidade muda tudo, não é?
    Quando víamos nos filmes de domingo, nas matinês dos cinemas, o mocinho e a mocinha sempre terminavam o filme com um beijo empolgante, diferentemente de hoje, pois vemos estórias com o amor somente entre os lençóis.
    O meu primeiro beijo foi emocionante; a menina me beijou e seus lábios realmente eram adocicados e incríveis! Depois de algum tempo concluí que ela usava uma balinha. (Risos!...).
    Obrigado pelo seu comentário. Emocionou-me. Uma emoção que leva a tentar escrever mais e mais versos.
    Um Grande abraço, sempre...

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  6. espaço acolhedor, muito intimista, indiciador de um bom-gosto muito bem temperado! parabéns!
    um abraço!

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  7. Machado de Castro,
    Agradecida e, lisonjeada com o seu comentário.

    Você usou a expressão correcta "fotonovelas" palavra que não lembrei para descrever a novela e, imagem que deliciaram momentos na minha adolescência. Perdoe-me Machado de Castro a indelicadeza mas não entendi o que pretendeu dizer que a menina usava uma "balinha" ?!

    Um delicado e, ténue delicado dia para si.

    Ana

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  8. Jorge Pimenta,
    A opinião manifestada no seu comentário sobre o meu "Ballet de Palavras", é permutada pelo “Viagens de Luz e Sombra”.

    Semelhantemente ... um laço de cetim de mim para si.

    Ana

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