O final do dia, de ontem, entristeceu-me

... e, colocou um sentimento doloroso no lado esquerdo do meu peito na constatação do sofrimento de um ente querido. No mesmo instante, relembrou-me um texto, escrito por mim há uns anos atrás.

Volvidos esses anos, a situação mantém-se!

Por momentos, paro, relembro a minha puberdade e, memórias assolam o meu pensamento. No meu semblante, uma lágrima rola por ele, ao mesmo tempo, um ténue sorriso assenta nos meus lábios na certeza que algo está mudando mas, muito lentamente no nosso País.

O novo código deontológico dos médicos, recorda-me a continuação da determinação na proibição do médico na ajuda ao suicídio, eutanásia e, distanásia (morte lenta e dolorosa).

Na realidade nunca entendi, e, dificilmente entenderei.
Tema delicado ? Eu sei !
A Eutanásia defende o princípio da liberdade. A liberdade da dor, do sofrimento, do vazio, a fuga para o descanso eterno. Viver é um direito de todos nós. A todos nós foi concebido o privilégio de sentir, usufruir e, proporcionar qualidade na nossa vida e, naturalmente, a vida de quem nos rodeia.

Experimentar a brisa, o sol, escutar o som do mar, pegar num grão de areia, escutar a melodia dos passarinhos, estudar, dançar, ler, exercitar, rir … enfim! Não necessariamente por esta ordem, não necessariamente por esta importância … obviamente, provém da sensibilidade e, prazer de cada um …

Mas, e se ?! Se estes privilégios não nos acompanharem pela vida fora?!

Se existem quem nunca os possuiu, outros, há que á medida que o tempo  gradualmente passa perde esses direitos. Então, uma questão assola o meu pensamento. O que será mais digno? Um doente parado no tempo, dorido, angustiado, limitado, acamado, dolorosamente sofrido … onde a vida como é reconhecida o priva desses direitos ou, a medicina que se não possuiu a "cura" detém o poder de assentar termino a essa dor mas não a pratica.

Injustamente o paciente perdura possessor das dores que percorrem pelo seu corpo, sem piedade e, sem dó. O mal acomoda-se desde o despertar ao adormecer, diariamente sentido nas horas, minutos e,  segundos, todos os dias e, todas as noites.

Chocante! Mas é a crua veracidade de muitos doentes em fase terminal, sem esperanças futuras. O direito à morte não existe, somente, a obrigação de uma vida dolorosa, irreal e, fictícia.

Todo o ser humano, enquanto, detentor da sua capacidade física permite se o desejar a ruptura da sua vida. Inacreditavelmente, pode até controlar a vivência ou morte de um seu semelhante, no entanto, e, reversamente o ser debilitado e, terminal (isento de meios) demite-se da capacidade de não poder definir sobre a sua dolorosa e, terminal vida e, portanto, agrestemente é entregue á mercê dela.

Quem pode e, deveria ser portador da sua salvação no término do seu flagelo, assiste, minimiza e, prolonga um sofrimento por vezes, às vezes, muitas vezes contra o ser que dela padece.
Porque se continua com a vedação do auxílio ao doente terminal ?! Porque se opta pela dor inimaginável do doente terminal e, seus entes queridos ?! Porque não se permite a morte com dignidade?! A morte dignamente assistida?!

Comentários

  1. E que vivamos enquanto estivermos vivos.

    Bjs.

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  2. Ana querida, obrigado pela visita e pelo comentário.
    Concordo perfeitamente contigo. A Saudade é uma dorzinha traiçoeira que judia do coração da gente. Que vc contorne sempre estes momentos e que seja sempre muito feliz minha menina!!!!

    Um beijo enorme do Zé Carlos

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  3. Há tempos escrevi assim num post do meu blogue:
    "Tenho pensado imenso na vida. Mas, como a morte é certa, também tenho pensado muito nela.
    Gostava de ter uma morte serena, uma "morte santa" (repentina), não sofrer e nem dar muitos trabalhos aos outros.
    Não sou de lamechices. O destino está certo e, apesar do pouco, resolvi fazer meu testamento."

    (http://joe-ant.blogspot.com/2010/10/isto-esta-pela-hora-da-morte.html)
    ....
    Escrevi num tom, de certo modo, alegre...
    Depois de ler este seu post, lembrei-me e passo a sugestão de que deveria, por lei, haver todo o tipo de "testamentos" para definirmos como queríamos que "devesse ser o fim das nossas vidas".
    Inventam tantas coisas para "prolongar" a linha da nossa vida, que acho que deveríam "aceitar" todas e quaisquer que fossem as nossas disposições finais.

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  4. Guará Matos,
    Vivamos, sim ... desejavelmente se estivermos bem.

    Um sorriso de mim para si.

    Ana

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  5. Zé Carlos,
    Agradecida e, lisonjeada com a sua visita ao meu Ballet de Palavras e, terno comentário.

    Foi um prazer sentido no lado esquerdo do meu peito no comentário expresso ao seu texto.

    Um laço feliz de mim para si.

    Ana

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  6. Joe Ant,
    Grata pelo seu comentário. E, lisonjeada pela partilha do seu texto. Foi um prazer.

    Sabe Joe?! Não a temo (morte) mas receio a forma como um dia a encontrarei. Semelhantemente ao Joe temo a morte lenta e, dolorosa pelo que o seu desejo é o meu.

    A lucidez do seu último parágrafo comoveu-me, por breves instantes, fiquei devolutas de palavras. Quem sabe um dia ?! A sua sugestão se transforma numa veracidade.

    Um laço delicado de mim para si Joe.

    Ana

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