O relógio


... delimitava pausadamente oito horas e, trinta cinco minutos quando acomodei-me e, peguei em minhas mãos o jornal matinal.  Na página frontal uma noticia realista e, preocupante.

Pobreza envergonhada, a escusa dissemelhante da tristeza impressa no rosto de quem dá a conhecer-se.

Importante, relevante e, detentora de uma real e, dura veracidade que a cada dia que passa se vai acentuando cada vez mais e, mais. O idealismo egoísta, o desfasamento de laços familiares, o aumento do desemprego, o consequente endividamento de pessoas com orçamentos que diminuem drasticamente com este são alguns dos exemplos que caracterizam lentamente, agonizantemente este estado de alma presente … na vida de gentes que sente este flagelo.

Sem querer ferir susceptibilidades e, correndo o risco de um juízo de valor, confesso a minha tristeza no conhecimento de existência de situações de pobreza envergonhada em que gentes  muitas das vezes são negligentes…

Gentes, que pensam e, agem dissemelhantemente na administração dos parcos recursos que detém. Gentes que levadas por desconhecimento ou não vivem acima das suas posses, similarmente.

Ensinar as pessoas a gerirem o que possuem, apelar ao perigo do consumismo com que todos os dias somos bombardeados, investindo mais no seu conhecimento e, educação com o investimento numa geração profissional, fazendo da escola uma boa formação para a vida e não um modo de ocupar o tempo, é uma aprendizagem que no meu entender é urgente para delapidar este flagelo, também.

No entanto, reconheço e, confesso, independente do tipo de pobreza (pobreza envergonhada ou pobreza declarada) têm ambas uma fatalidade comum, e, ambas são carentes de um urgente investimento de fortaleza, actuando solidariamente de forma individual ou associada torna-se imperativo que se disponha do mínimo necessário para transmutar a pobreza num modo digno vivencial.

Escandalizada que a pobreza seja apenas uma estrutura que se organiza e, medita para divulgação nos relatórios mensais e, anuais  mas, crente e, esperançada que na prática a curto ou longo prazo seja uma guerra a conquistar.

Comentários

  1. Linda crítica, incrível prosa!

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  2. Não sei falar sobre a pobreza, Muito menos ainda da envergonhada.
    Não vislumbro uma resolução rápida e homogénea para tais situações, porque as previsões são para piorar a partir de Janeiro. E não sei onde isto nos vai levar. Só sei que vai ser dramático.
    Antes, criminoso. Criminoso o que tem sido feito para não dissuadir os portugueses de viverem à larga à custa do crédito, criminoso por parte das instituiçoes que os pôs nessa situação, criminoso por parte do governo que não acautelou os direitos das pessoas de serem convenientemente informadas, criminoso por o governo ser obrigado a seguir uma política dde agravamento de todas estas situações adquiridas.
    ...
    Enfim... um país de "criminosos", ladrões, párias, especuladores.
    Por tudo..verdadeiros aniquiladores da dignidade humana.
    Uma verdadeira "servidão humana".

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  3. D M Rangel,
    Lisonjeada com a sua visita ao meu Ballet de Palavras e, agradecida.

    Ana

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  4. Joe Ant,
    Melancólico e, verdadeiro o seu comentário. De facto, as conjecturas não são tranquilizantes. O drama e, a hecatombe trajará de vestes negras e, nefastas a pobreza que se acomodará em diversos lares.

    Sabe Joe?! Estremeço, sempre, quando observo e, sinto a pobreza declarada e, a dissimulada perante o meu olhar.

    Um final de dia caloroso em reverso ao tempo que se faz sentir.

    Ana

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