Comodamente na minha sala observo o meu redor


Defronte a lareira acesa e, ornamentada alteia a sua formosura.  O ambiente, sinto-o requintadamente afectuoso.

Num lugar soberano, assenta uma majestosa Rainha de coloração verde, anteriormente desnudada e, neste instante, trajada de dissemelhantes colorações de adornos vermelho e, dourado.

Esguia e, esbelta a majestosa rainha adorna no seu cume uma delicada auréola em formato de estrela majestosamente trajada, e, ornamentada por luzinhas pequeníssimas de cor branca que pestanejam, tremeluzem, seduzem e, encantam-me ... vagarosamente …

Fielmente escoltada… O presépio, similarmente, iluminado e, adereçado completam o momento extasiado ao meu olhar…

Afastada, uma velhinha grafonola, debita sons melodiosos de doces, encantadores cânticos de natal, enfeitando o meu âmago de pensamentos reais.

A quadra natalícia relembra-me, sempre, ternos, momentos vividos na minha infância. Hoje, na idade adulta similarmente vividos mas dolorosamente e, reversamente confrontados.

Mãos velhinhas e, ternamente delicadas detentoras de carinhos e, hoje, reversamente lembram-me outras … as mãozinhas de pedintes, rudes de pobreza que dolorosamente entristecem o meu semblante…

As feições debilitadas pelo tempo, marcas de vida passadas, ternamente desejadas e, hoje, reversamente lembro daqueles que tanto de si ofertaram a alguém e, no presente dolorosamente esquecidos se tornaram reféns…

O enlaço, o laço de cetim tantas vezes profetizado e, concretizado e, hoje, reversamente lembro dos que desnudados se enlaçam na dolorosa companheira … a solidão.

Encontro, ainda, na lembrança suave e, viva aquelas pessoas que marcaram e, marcam a minha vida e, no reverso, hoje, rememoro similarmente aqueles que já nem se recordam mais quem são  extenuados pelo vazio de suas vidas.

Nesta quadra de Natal … Sinto que no aconchego do meu lar, nos enlaces de quem são para mim ternamente especiais um Natal Feliz seja o epílogo mas, não consigo esquecer que no reverso existem aqueles que mal se alimentam, solitários permanecem e, despejados de lar celebram a mesma Quadra Natalícia.

Momentaneamente, cerro os olhos.

A lareira quente, esfria.

A gloriosa e, magnificente rainha detém-se no mesmo lugar.

Cerro a luz e, recolho-me ao meu aconchegante leito.

Comentários

  1. ...poesia tão bela quanto o Natal!
    Pura magia, sem palavras!

    Mais um belo ballet.

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  2. DM Rangel,
    O Natal é sublime, requintado e, doce. Semelhantemente o seu comentário é adornado e, melodioso pela delicadeza e, ternura impressa.

    Agradecida pelo seu apreço.

    Ana

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  3. Hoje vivemos (ou, julgamos viver) num mundo civilizado.
    Vivemos no mundo "do reverso", "do contraditório", "do expiatório", de um "novo purgatório", num "novo limiar".
    Para qualquer tema, para qualquer lado que nos viremos, somos obrigados a revermos os modos como pensávamos, como agíamos, perante o mundo que antes nos tinha sido representado, como nos tinha sido apresentado. E... tudo está mudado!
    Nós, os que vivemos "assim, assim" ou "menos mal", damo-nos por nós a "ter que dar muitas graças a Deus" pelo que ainda temos, pelo que ainda podemos viver e do modo que vivemos.
    Enquanto que...
    Quem sou eu (sózinho) para poder mudar alguma coisa? Para que isso sucedesse, teria também que mudar muita coisa em mim, especialmente no meu estilo de vida acomodatício, de certo modo egoísta em que fui criado e tenho impingido a mim próprio.
    O texto é maravilhoso. Deixa-nos perturbados e a pensar nas situações adversas.
    Mas... há sempre aquele mas...
    Nunca tive espírito de voluntário.
    Não sei me dar.
    Não apreendi, nem se sei se consigo viver de outro modo.
    Preciso de muita ajuda!

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  4. Joe Ant,
    Lisonjeada pela oportunidade que me concede no entendimento como pensa e, age pela leitura da sua análise real, lúcida e, emotiva.

    Sabe Joe na verdade penso que vivemos num Mundo em que as leis vigentes dos direitos e, deveres do cidadão são manifestamente insuficientes no seu cumprimento. Essas manifestações aliadas à isenção de confiança e, permanente descontentamento são factores que se reflectem na consciencialização e, procedimento de qualquer um dos nossos semelhantes. De um modo, generalizado, nós “sabemos” quem nos rodeia e, o que nos rodeia mas de um modo particular e, sucinto todos nós agimos e, pensamos como nos convém. Não pretendo ferir susceptibilidade mas é a forma como sinto e, vejo.

    Finalmente, felicito-o pela clareza e, sinceridade como se define relativamente à incapacidade que sente em se entregar, partilhar e, comungar com um outro ser semelhante de inferior estabilidade e, confesso que emocionei-me. Joe ?! A minha infância e, adolescência foi principesca e, requintada. Hoje, na idade adulta, a situação mantém-se. Reversamente ao Joe , apreendi e, cresci com o espírito que actualmente perfilho e, que permite-me proporcionar um alento, um aconchego, um agasalho a seres nossos semelhantes mas, dissemelhantes na forma como se vêm e, sentem. Confesso Joe árdua e, dolorosa por vezes, mas, muitas vezes benéfica e, reconfortante. É naturalmente, uma “vivência” de vida … como outra qualquer.

    Um sorriso e, um laço enovelado de respeito que nutro por si. Uma tarde reconfortante semelhante ao tempo que se faz senti.

    Ana

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