O seu nome ?! ...

O relógio marcava detalhadamente 13h25m quando peguei na carteira e ausentei-me de casa.

Instantes depois, com destino definido, caminhava por entre as pedras da calçada quando o meu olhar se debruçou num corpo sentado num dos bancos de jardim do caminho que percorria.

Por instantes, o nosso olhar se cruzou … um sorriso aflorou no seu rosto e, dos seus lábios um som se fez ouvir imperceptivelmente. Olhei ao meu redor na incerteza se seria para mim … depois debrucei de novo o meu olhar no seu e, com a convicção que era para mim, vagarosa e, temerosa aproximei-me.
Com um gesto arrastado convidou-me a sentar-me ao seu lado.

- O meu nome é Maria. O seu ?
- Ana … respondi.
- Ana tem um pedacinho de tempo para mim?! balbuciou …
Sentei-me, contornei o meu corpo e, admirei-a. O seu corpo era delgado, o seu rosto estigmatizado pela vida … as suas mãos enraizadas do longo tempo vivido. Subitamente, Maria pegou numa das minhas mãos e, acariciou-as com as suas rudes de aspecto e, delicadas no trato. Nesse instante, o meu corpo estremeceu … o meu rosto crispou-se e, gotículas lacrimais se fizeram sentir …

Sem pressa a Maria iniciou o diálogo e, confessou pequenos momentos da sua infância, da sua adolescência e, da sua velhice nos minutos longos, constatados quando nos despedimos depois.
À maioria dos idosos de hoje não lhes foi dada a oportunidade de usufruírem de uma velhice sonhadora, terna e, ou encantada… a velhice merecida.

A vida é feita de reversos … E a nossa é um espelho fiel que retrata a forma como pensamos, comportamo-nos e, agimos ao longo dela.
Actualmente, não tenho a menor dúvida relativamente às necessidades basilares de alguns dos nossos idosos. Carências múltiplas … A solidão, o requisito de uma palavra de conforto, um acto carinhoso e, ou ainda outras privações de índole, igualmente, relevantes… as financeiras, físicas e, psicológicas … sequelas que o tempo amargamente deixou… Uma vez mais constato que a velhice é carente de conforto, de agasalho … de carinho sobre todas as outras carências múltiplas que mencionei. Deploravelmente, apercebo-me que a sociedade e, ou actos solitários são importantes mas ainda débeis na resolução desses problemas.

A Maria ficou serena, calma e, sorrindo ...
Eu parti vagarosa e, triste no retorno a casa acompanhada pelo desejo de transmutar os contos aterradores da "velhice" em contos de fadas encantado …

Comentários

  1. Querida amiga bailarina...

    É por isso que precisamos de escritor, poeta de palavras como estas.Eles sabem que, qualquer coisa que fizerem estará dando conforto,além disso, amenizará a solidão daqueles que os lêem e os levará a uma reflexão.

    "Quando tiver 100 anos, qualquer coisa que fizer, seja um ponto, seja uma linha, terá vida" (palavras de Hokusai,pintor japonês)

    Carinhos bailados.
    Agradecida por tudo

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  2. IT,
    O seu comentário traduzindo o seu pensamento é semelhantemente às palavras lindissimas e, verdadeiras de Hokusai.

    Um laço carinhoso de mim para si.

    Ana

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